Como sempre a cama me segurou pela manhã, sai arrastada para tomar o café com o marido antes do trabalho. Dei um beijo de despedida e quando puxou a porta fechando a maçaneta, ouvi um chamado: a cama, voltei correndo, me espalhando, abraçando os travesseiros por um tempo, mas ainda bem, tempo suficiente para o cérebro começar a funcionar.
Há tempo cheguei no consultório pouco antes da hora marcada. Resolvi ver com um especialista o sinal que surgiu nas minhas costas, coisa da idade, normal.
A recepção estava vazia, eu e apenas uma jovem, quase da minha idade. Como ela, peguei uma revista e folhei desejando estar ao lado dos famosos e ricos da Caras e Contigo. Entre uma matéria e outra nos encaramos (Tenho certeza, não tinha mais que 30 anos), a principio a loira sorriu, mas no segundo seguinte (explosão)...
- Você é casada?
- Sou.
- E faz tempo?
- Oito anos.
- Sabe o que é, eu não entendo. Eu sei que é pouco tempo, ok, eu entendo...sabe o que é querida - nesse instante ela se virou para tocar meu joelho apontado para a tv ligada na Globo. - eu e meu marido estamos juntos tem três anos, nos conhecemos na igreja, somos evangélicos, mas ele não me entende.
A porta do consultório se abriu, um paciente se aproximou da recepcionista. E paramos de conversar, quer dizer, ela de falar. Mas recomeçou de onde parou.
- Você acredita que ele usa todo meu shampoo? Ele tem o dele, mas ele quer usar o meu, dai a gente briga, depois tentamos conversar, brigamos mais ainda e algumas horas mais tarde, enfim, fazemos as pazes e já é quase de manhã.
Porque aquele discurso todo sobre um problema que é só dela e do marido? O que a mulher tinha em mente? Tenho cara de psicologa?
A unica coisa que perguntei foi:
- Faz tempo que você chegou?
- Você ouviu o que eu disse? Achei que você era minha amiga!!! É difícil arrumar um bom marido, mas amiga, não sabia que era assim também.
A loira nervosa levantou, pondo as mãos nas cintura e saiu pisando duro, com raiva e de mim. O que eu fiz? Devia ter ficado na cama.
